terça-feira, 17 de junho de 2014

Cão de Castro Laboreiro


O defensor do gado

Cão de Castro Laboreiro
origem:Portugal
classificação:Cães de Pastoreio
altura:52 para 60 cm
peso:0 para 40 kg

História 

A região do Castro Laboreiro está situada no extremo norte de Portugal, rodeada por Espanha a norte, este e sul. Com a Serra da Peneda a conferir-lhe um cenário pictórico único, é uma região montanhosa, agreste, onde se torna difícil viver. Desde sempre que os seus habitantes se dedicaram à pastorícia. Mas o isolamento e o tipo de subsistência levaram rapidamente ao surgimento de um tipo de cão com características muito específicas que o diferenciam das restantes raças nacionais.

É difícil reconhecer facilmente a sua origem, contudo podemos afirmar alguns ancestrais semelhantes com o Rafeiro Alentejano e com o Serra da Estrela. Poderia ter então a sua origem no planalto Tibetano de onde irradiou para toda a Europa, à semelhança do que aconteceu com o Serra da Estrela. Contudo, parece-nos mais simples descrever a sua origem de outro modo: foi o homem, habitante da região desde a pré-história, que a partir do contacto com os animais bravos, domesticou o lobo e criou esta raça.

É natural que esta domesticação não tenha sido premeditada. O que provavelmente se passou foram caçadores que recolheram crias indefesas após a morte dos pais de modo a puderem servir de alimento em dias de escassez. Mas os pequenos animais inicialmente tímidos e temerosos rapidamente de tornaram em brinquedos vivos e irrequietos que as crianças aceitaram. A fera perdeu os seus mitos e integrou-se no grupo.

Com as mutações genéticas, consequência da selecção natural daqueles que aparentavam ser mais fracos e mal adaptados; da própria selecção exercida pelo homem eliminando os menos interessantes funcional e morfologicamente e ainda do isolamento que evitou a contaminação genética com sangues estranhos que obrigou a cruzamentos consanguíneos fixadores do tipo, fizeram o resto.

É portanto uma raça muito antiga que ainda hoje mantém características lupinas tais como determinadas reacções temperamentais, e nalguns exemplares, a cor dos olhos amarelados. A região não possuí grandes pastos pelo que os rebanhos são necessariamente pequenos e assim, algumas ovelhas, uma ou duas vacas e um cavalo, constituem os bens animais da família. Por esta razão não faz tanta falta um cão pastor como um cão que defenda o gado que fica nos terrenos de pastagem, confiado exclusivamente à sua guarda.

Neste terreno podemos então assistir a comportamentos típicos do cão de Castro Laboreiro: começar por rodar o local em busca de algum inimigo escondido e só então se deita junto do gado continuamente à sua guarda. Se este rebanho é composto por ovelhas e animais de outras espécies coloca-se junto daquelas, por saber que pela sua maior vulnerabilidade se tornam em presas preferenciais do predadores.

A raça, de grande pureza étnica, viu quebrado o isolamento da região devido à melhoria das acessibilidades, sendo de temer o seu abastardamento através da introdução de sangues estranhos. Aqui é de elogiar a acção do pároco de Castro Laboreiro, Padre Aníbal Rodrigues que consciente do valor cultural que esta raça representa para a região, soube preservá-la através dos inúmeros conselhos transmitidos e esforços despendidos nesse sentido. Esta tarefa tornou-se mais difícil de prosseguir uma vez que foi crescente a aculturação sofrida pelos emigrantes de região nos países de acolhimento, de onde resulta muitas vezes o desrespeito pelos valores tradicionais.

O Clube Português da Canicultura tem também colaborado na preservação da raça no seu solar, através da organização anual desde 1954, de concursos que têm como finalidade orientar as gentes da região na escolha de reprodutores mais interessantes quanto a características étnicas. O estalão da raça é da autoria do Prof. Dr. Manuel Fernandes Marques, fruto da observação de grande número de exemplares, constitui a base para qualquer valorização do valor morfológico dos exemplares. Apesar de relativamente pouco conhecida e injustamente mal apreciada no resto do país, é difundida sobretudo na região minhota.

Esta tendência tem vindo a ser contrariada pela expansão pelo resto do país. Analisando a evolução da percentagem de registos no LOP relativamente ao total de registos, constata-se um decréscimo a partir do ano de 1960. na década de 80 dá-se uma certa recuperação sobretudo devido ao interesse de alguns canicultores e posteriormente devido à acção do clube da raça.

Temperamento

Companheiro leal e dócil para os donos, tem índole nobre e expressão severa e rude denotando a rusticidade do montanhês. Desembaraçado de andamentos, ágil, resistente e nervoso, mostra-se frequentemente hostil sem contudo ser muito brigão.

Pode ser algo agressivo com estranhos, e devido à sua proximidade com a espécie lupina apenas tolera ordens dos seus donos, aceitando mal qualquer ensinamento de outra pessoa.

Descrição 

Cão tendendo para rectilíneo, lupóide tipo amastinado. É indispensável na protecção dos gados contra ataques dos lobos que ainda hoje existem nas imediações do solar. É uma sentinela ideal para a vigilância constante que exerce sobre os pontos que lhe foram confiados, rondando-os com frequência. É um animal vigoroso, de agradável conjunto morfológico e algumas vezes de vistosa pelagem.

Tem um ladrar característico, muito alto, começando com tons variáveis, mas em geral graves e terminando em agudos prolongados a lembrar os uivos lupinos. A cabeça é regular de tamanho, denotando leveza e não empastamento, bem guarnecida de tegumento, mas sem rugas. A cabeça define a raça pelo que deve obedecer estreitamente ao estalão em vigor. Orelhas regulares, pouco espessas e de forma ligeiramente triangular, mas arredondadas nas pontas; pendentes, de inserção um pouco acima da média caindo naturalmente e paralelamente de um e outro lado da cabeça.

Quando o animal está atento a orelha volta-se para diante, ficando a face externa em posição anterior. Os olhos são oblíquos, à superfície da órbita, amigdaliformes, médios no tamanho, iguais e bem abertos, de expressão severa e rude; cor castanha, em várias tonalidades desde o claro, nas pelagens mais abertas, até o castanho, quase preto nas pelagens mais carregadas. Maxilas potentes e bem cerradas, boca fendida de beiços regulares, não pendentes, nada carnudos, ajustando-se bem e de comissuras pouco aparentes. Dentes inteiros, brandos, fortes, adaptando-se bem e bem implantados em maxilas poderosamente musculadas. Admite-se também a dentição em tesoura.

O pescoço é direito e bem constituído, curto, de grossura proporcional, bem ligado ao tronco e de boa inserção cefálica, o que faculta à cabeça um altivo porte sem barbela. O peito é em ogiva, alto, largo e regularmente profundo. Na linha superior o dorso é horizontal e de comprimento regular; a região lombar é forte, larga, curta, musculada, ligando-se harmoniosamente à garupa, que se lhe segue a constituir um plano de suave inclinação. Na linha inferior o ventre não é volumoso é de facto ligeiramente retraído, mostrando sensível diferença de nível entre as regiões xifóidea e púbica, o que dá uma linha inferior de apreciável inclinação do externo até às virilhas.

A cauda é inteira descendo até ao curvilhão quando o animal está sossegado; em alfange, de airoso porte, seguindo-se à garupa segundo uma bela linha de inserção, mais alta do que média, e caída naturalmente entre as felpudas nádegas, mas destacando-se delas. Se o animal ficar excitado, a cauda ultrapassa a linha do dorso, inclina-se para cima, para diante e um pouco para o lado, mas nunca para baixo em trompa. Os membros anteriores e posteriores são muito correctos de aprumos em todos os quatro membros, quando vistos por detrás e de frente. Quando vistos de perfil a correcção mantém-se nos anteriores mas nos posteriores a linha do curvilhão abaixo inclina-se um pouco para diante da vertical.

A ossatura é bem desenvolvida e coberta de músculos, especialmente no braço e coxa. Os pés são proporcionais `corpulência e mais arredondados que compridos, tendendo para o pé felino. Os movimentos possuem uma locomoção rítmica e fácil; o passo é normal e às vezes travado, a não ser que algo o leve a mover-se mais velozmente (a trote ou galope).

Tipo de Pêlo 

Grosso, resistente, ligeiramente áspero ao tacto, liso, impermeável, bem assente em quase todo o corpo e abundante tem um tom ligeiramente baço. É predominantemente curto sendo que é normalmente mais curto e basto na cabeça e orelhas onde é mais fino e macio. É espesso e longo na cauda, dando-lhe maior grossura na parte média e nas nádegas, que são particularmente peludas. Não tem pelugem. É vulgar o lobeiro nas suas tonalidades claro, comum e escuro, sendo esta última mais predominante.

Em casos excepcionais, pode-se encontrar no mesmo cão três variedades de regiões diferentes: o lobeiro escuro na cabeça, dorso e espáduas, o lobeiro comum no tórax, garupa e coxas e o lobeiro claro no ventre, terços e bragadas. A preferida cor é a “cor de monte” tal como os autóctones a designam, considerada pelos criadores das regiões castrenses como característica étnica: pelagem composta, alobatada, pardusca, com cambiantes, mais ou menos carregadas, no preto, tendo à mistura, no todo ou em parte, pêlos castanhos, cor de pinhão, ou avermelhados, cor de mogno.

Observações

Conhecedor da maior vulnerabilidade de certos elementos do rebanho que defende, coloca-se junto deles e com extraordinário instinto de propriedade defende-os com valentia assim como acontece com os restantes bens do dono. Além do seu trabalho como protector do gado contra lobos e outros predadores, é agora também usado como cão de guarda e no trabalho da polícia. Necessita de exercício considerável e o seu pêlo não exige qualquer tratamento em particular mas uma escovagem mínima pode melhorar a sua aparência.

http://arcadenoe.sapo.pt/raca/c_o_de_castro_laboreiro/136

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